quarta-feira, outubro 24, 2007

Eu vou, eu vou...

Eu devia ter entre seis e sete anos quando este episódio ocorreu. Não lembro se o meu irmão mais novo já era nascido, mas isso também não é importante:
Esse dia devia ser feriado, porque não fui às aulas. Sempre gostei da escola, talvez por me sentir muito solitária. Lembro, como se fosse hoje, do dia em que fui “barrada” no jardim-de-infância, porque ao invés de usar calças vermelhas em tecido, usava calças vermelhas de lãzinha. Para as directoras devia ser mais importante manter um sistema igualitário (era um jardim-de-infância público e, se calhar, eu parecia muito ‘phina’ com aquelas calças), do que ligar para os sentimentos de uma criança que foi proibida de entrar na escola. Lembro de chorar até soluçar em cima do balcão da padaria, ao lado da caixa registadora. Um trauma.
E porque nunca faltava às aulas – nem meu pai o permitiria, a não ser que eu estivesse já com um pé no caixão – penso que devia ser um feriado. Todos os dias, depois do jornal da hora do almoço, passava o “Vale a Pena Ver de Novo” e a famosa “Sessão da Tarde”. Eu adorava os filmes… Assisti muitos clássicos e romances “água com açúcar”, já que os clássicos mais densos ficavam para a madrugada (mas, eu só descobri a “Sessão Coruja”, como se chamava, quando cheguei à ‘aborrescência’).
Naquele dia estava programado um filme que marcou a minha vida e os meus sonhos de criança: “Sissi”.
A princesa era linda e a história era mais bonita ainda (para os meus pobres padrões românticos e infantis). Inesquecível a cena em que a irmã pensa que ele lhe vai entregar as rosas (o que simbolizava que ela era a noiva escolhida por ele), e o príncipe entrega à Sissi.
Devorei o filme e chorei rios de lágrimas pelos dois dias seguintes, porque passavam os outros dois filmes da trilogia e eu tinha que ir para o colégio. A minha mãe foi inflexível.
Para piorar, a Jaqueline, minha amiga lá na rua, também filha de portugueses, ganhou uma boneca Sissi. Era linda. Bem, eu tinha uma Susie, que a minha mãe trouxe quando foi à entrega do espadim do meu irmão Carlinhos. Mas, apesar do vestido comprido vermelho que ela tinha, não se comparava ao vestido de baile da Sissi…
Muitos e muitos anos depois, se não estava na faculdade estava prestes a entrar, vi num clube de vídeo os três filmes e outros com a mesma actriz, Romy Schneider. É claro que não sosseguei enquanto não assisti todos os que estavam disponíveis (A triologia da Sissi, Os Jovens Anos de uma Rainha, o Imperador e a Padeira, Ludwig).
Já em Portugal, comprei uma biografia sobre Sissi (A Imperatriz) e um outro livro onde romanceiam um ‘possível’ episódio de sua vida (A Valsa Inacabada).
Sempre que falava a LF que um dia gostava de lá ir, ele dizia que a Áustria era um lindo país (já lá esteve), mas que era muito caro.
Bem, o meu sonho de infância vai realizar-se na próxima terça-feira: Vamos até Viena! Eu vou ver o castelo da Sissi!

quinta-feira, outubro 11, 2007

O sonho

Amanhã assinalo 11 anos do meu acidente de carro.
Não vou dizer que parece que foi ontem. Pelo contrário. Parece que foi há dezenas de anos. Só lembro mesmo porque amanhã, no Brasil, também se comemora o Dia das Crianças e o Dia de Nossa Senhora de Aparecida, padroeira do país.
O que ficou desse dia? Bem… ficou umas cicatrizes na perna, uma ciática e mais algumas mazelas que, futuramente, vão dar as caras. O mais importante de tudo: um sonho absolutamente delicioso com o meu pai, e que vai me acompanhar pelo resto da minha vida.
Naquele dia, era um sábado, estava de plantão no jornal durante a manhã. À tarde, depois do almoço, fui deitar num dos meus lugares predilectos da casa: o sofá da sala, onde quase ninguém entrava. Dormi e sonhei…
Eu estava na Igreja da minha rua, sentada num dos bancos compridos, quando entrou um homem e sentou na minha frente. Fiquei com “a pulga atrás da orelha”, porque estava a reconhecer aquela nuca, aqueles cabelos, mas só consegui ver quem era quando ele se pôs de perfil. Eu disse: “pai?!”, e ele se levantou e saiu.
Encontrei com ele na frente da igreja. Eu chorava e dizia: “Pai, o senhor vive aparecendo para a minha mãe, porque não aparece para mim?”. Ele olhou para mim, deu um meio-sorriso e disse: “Adriana… Você é muito boba mesmo? Quem é que você acha que deixa a luz da cozinha acesa quando você vai beber leite de madrugada na geladeira?”.
Eu comecei então a rir e a chorar, porque eu tinha esse hábito. Muitas vezes acordava de madrugada e ia até o frigorífico, tirava o pacote de leite com chocolate e bebia um copo. Em várias ocasiões a luz da cozinha estava acesa e eu sempre achei que era o meu irmão mais novo, o Júnior, que esquecia.
Foi então que ele disse as palavras que nunca mais vou esquecer:
“Adriana, você é muito boba mesmo… Eu sempre vou estar do seu lado, eu sempre vou te acompanhar”.
Nesse instante eu acordei.
Naquele dia, à noite, tive o acidente. Eu fracturei a bacia, o fémur e a tíbia. Do meu carro pouco sobrou.
Quando acordei, lembrei desse encontro.
Nunca mais sonhei com o meu pai.

quarta-feira, outubro 03, 2007

Considerações sobre o tempo



Há dias em que não devíamos levantar da cama… Principalmente quando a noite anterior contou com uma grande jantarada, e você ainda tem os petiscos todos no estômago.
Adiante, que isso corre o risco de tornar-se escatológico.
Os dias têm estado, hum, assim-assim. E eu meio que gosto-não-gosto de dias assim.

Gosto de não estar aquele calor estúpido que me deixa mole, mas não gosto de ter que ir para a rua com vento ou chuva.
Gosto de vestir roupas mais aconchegadas, mas não gosto de ter vestido muita roupa no frio da manhã e ver, ao meio-dia, um sol esplendoroso.
Gosto de dormir quentinha, mas não gosto de sair do ‘ninho’ de manhã cedo.
Gosto de lençóis de flanela (ainda não os coloquei), mas não gosto do tempo que a roupa demora a secar depois de lavada.
Gosto de usar botas, mas não gosto de ‘perder’ os meus pés de vista.
Gosto do cheiro da chuva na terra molhada, mas não gosto de perder a claridade do sol.


Não posso dizer que tenho saudades do verão, porque o deste ano não foi lá grande coisa. Mas, sei que daqui a uns tempos, já vou estar a reclamar que o calor nunca mais vem.