quinta-feira, outubro 11, 2007

O sonho

Amanhã assinalo 11 anos do meu acidente de carro.
Não vou dizer que parece que foi ontem. Pelo contrário. Parece que foi há dezenas de anos. Só lembro mesmo porque amanhã, no Brasil, também se comemora o Dia das Crianças e o Dia de Nossa Senhora de Aparecida, padroeira do país.
O que ficou desse dia? Bem… ficou umas cicatrizes na perna, uma ciática e mais algumas mazelas que, futuramente, vão dar as caras. O mais importante de tudo: um sonho absolutamente delicioso com o meu pai, e que vai me acompanhar pelo resto da minha vida.
Naquele dia, era um sábado, estava de plantão no jornal durante a manhã. À tarde, depois do almoço, fui deitar num dos meus lugares predilectos da casa: o sofá da sala, onde quase ninguém entrava. Dormi e sonhei…
Eu estava na Igreja da minha rua, sentada num dos bancos compridos, quando entrou um homem e sentou na minha frente. Fiquei com “a pulga atrás da orelha”, porque estava a reconhecer aquela nuca, aqueles cabelos, mas só consegui ver quem era quando ele se pôs de perfil. Eu disse: “pai?!”, e ele se levantou e saiu.
Encontrei com ele na frente da igreja. Eu chorava e dizia: “Pai, o senhor vive aparecendo para a minha mãe, porque não aparece para mim?”. Ele olhou para mim, deu um meio-sorriso e disse: “Adriana… Você é muito boba mesmo? Quem é que você acha que deixa a luz da cozinha acesa quando você vai beber leite de madrugada na geladeira?”.
Eu comecei então a rir e a chorar, porque eu tinha esse hábito. Muitas vezes acordava de madrugada e ia até o frigorífico, tirava o pacote de leite com chocolate e bebia um copo. Em várias ocasiões a luz da cozinha estava acesa e eu sempre achei que era o meu irmão mais novo, o Júnior, que esquecia.
Foi então que ele disse as palavras que nunca mais vou esquecer:
“Adriana, você é muito boba mesmo… Eu sempre vou estar do seu lado, eu sempre vou te acompanhar”.
Nesse instante eu acordei.
Naquele dia, à noite, tive o acidente. Eu fracturei a bacia, o fémur e a tíbia. Do meu carro pouco sobrou.
Quando acordei, lembrei desse encontro.
Nunca mais sonhei com o meu pai.

5 comentários:

Unknown disse...

Gostei muito deste texto amiguita.
Ciao.

Anónimo disse...

Nossa, Adriana, que post emocionante!
Um beijo

Anónimo disse...

O ditado não falha: Pai é pai, só muda de endereço... [mesmo que seja d'outro lado]

A Dona do Bloguinho disse...

Eu lembro desse dia. Você estava indo para a festa de aniversário do Rodrigo, lembra?

O tempo vooooa.

Não sabia do sonho.

Bjs bjs bjs

Anónimo disse...

Meu colega taxista, o Ari, foi internado às pressas devido a um infarto. Durante a madrugada, entrou um enfermeiro no quarto e acordou-o chamando-o de Nelson. Então, o Ari disse que não se chamava Nelson, que Nelson era o seu irmão. O enfermeiro disse que o Nelson estava ao lado do leito. Fazendo companhia a ele. Detalhe: o Ari não disse que seu irmão era morto. No outro dia o Ari descreveu o enfermeiro e ninguém o conhecia. Acredito que seu pai esteja te acompanhando.
Há braços!!